HISTÓRIA DA TEOLOGIA CRISTÃ - Parte 56



A heresia de Apolinário: “Deus em um corpo”

Um exemplo excelente da antiga cristologia alexandrina da Palavra-carne é o de Apolinário de Laodicéia, o infeliz bispo e teólogo cristão amplamente criticado e condenado por Gregório Nazianzeno e pelo Concílio de Constantinopla. Seu único erro, segundo os alexandrinos ortodoxos e até mesmo o próprio Gregório, foi negar a alma racional humana de Jesus Cristo e substituí-la pelo Logos.

Apolinário, contra a opinião antioquena, como a que era sustentada por Diodoro de Tarso, “buscava garantir uma encarnação verdadeira, contrariando a ideia de uma mera conexão entre o Logos e o homem Jesus”. O problema, no entanto, foi que “garantiu essa união orgânica entre o humano e o divino somente pela mutilação da parte humana”.

A razão pela qual Apolinário “mutilou” a parte humana em Jesus Cristo era soteriológica. Para ele, assim como para a maioria dos alexandrinos, a salvação como deificação é possível somente se Cristo for totalmente controlado pela vontade e pelo poder divinos. Se ele tivesse uma alma racional (mente ou espírito), poderia ter pecado e resistido ao chamado do Logos em sua vida, e isso implicaria que a encarnação não teria acontecido.

Além disso, se sua alma fosse racional haveria dois centros de consciência, de ação e de vontade em Jesus Cristo, isto é, um divino e outro humano, e essa seria uma união falsa ou incompleta da divindade e da humanidade. Somente uma verdadeira união natural – duas naturezas reunidas em uma só pessoa formando uma única natureza – pode equivaler a uma encarnação na qual o divino permeia e cura o  humano.

A cristologia de Apolinário foi condenada no Concílio de Constantinopla, não porque incluía a ideia de “uma só natureza do Deus-homem depois da união”- uma ideia alexandrina comum – mas porque negava a humanidade integral e completa do Salvador. Gregório Nazianzeno simpatizava com a abordagem alexandrina, mas não podia permitir que fosse levada ao extremo ao qual Apolinário a levou. Portanto, na famosa passagem contra Apolinário, Gregório escreveu:

Quem acredita que Ele [Jesus] é um homem sem uma mente humana, realmente não tem uma mente e é totalmente indigno da salvação. Pois tudo aquilo que Ele não assumiu, não curou; mas o que se unir à Sua divindade também será salvo. Se somente a metade de Adão pecou, então o que Cristo assume e salva também pode ser a metade; mas se toda a sua natureza pecou, precisa se unir à natureza integral do que foi criado e, assim, ser salva na sua integridade.

O Concílio de Constantinopla condenou como herética a cristologia de Apolinário, sem solucionar o problema que ela levantou. Depois desse concílio, foi necessário que os cristãos concordassem com o conceito antioqueno de que Jesus Cristo tinha uma natureza humana integral – corpo, alma e espírito – e até mesmo uma mente humana. Os antioquenos consideraram a decisão uma grande vitória e os alexandrinos, uma derrota. Mantiveram-se atentos a Constantinopla, observando e esperando que os teólogos antioquenos repetissem a heresia de Paulo de Samosata para surpreendê-lo.

“Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.” (Lc 1:30-35).

Que o Senhor nos abençoe e nos guarde.
Monteiro

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